Apocalipse - Um estudo sobre o assunto
08:53O Apocalipse é um dos livros bíblicos mais difíceis de serem interpretados. Caracteriza-se pelo emprego frequente de símbolos e figuras. Seus intérpretes discordam a respeito do modo e do tempo em que as visões dos capítulos 6 a 19 são cumpridas.
Identificamos quatro métodos de interpretação do livro de Apocalipse, a saber, o método preterista, o historicista, o futurista e o idealista. Há, ainda, intérpretes que defendem uma combinação desses métodos. O objetivo deste estudo é fazer uma abordagem sucinta de cada um desses métodos interpretativos, sem defender um ou outro.
O Preterismo
Essa corrente busca interpretar o Apocalipse com base no seu contexto histórico. O simbolismo desse livro se relaciona predominantemente (ou exclusivamente) com os eventos contemporâneos a João (o autor) e às sete igrejas asiáticas (os destinatários). O seu cumprimento teria ocorrido na destruição de Jerusalém (no ano 70 D.C.) ou do Império Romano.
Segundo essa interpretação, o Apocalipse teria sido escrito com o propósito de confortar e encorajar a igreja do seu tempo, em meio às terríveis perseguições que estavam sofrendo. A vinda do Senhor significa a intervenção divina a fim de destruir os governos perversos e estabelecer o seu reino (do Senhor). A besta simboliza o Império Romano; o falso profeta, a classe sacerdotal asiática que promovia o culto ao imperador. A grande meretriz do capítulo 17 seria a cidade de Roma no século I, ou, para alguns intérpretes, a Jerusalém apóstata. Segundo o método preterista, o Apocalipse não é um livro escatológico.
O Historicismo
Defendem que a profecia abrange toda a história da Igreja, mostrando como as malignas forças do mundo lutam contra a Igreja. Essa interpretação foi muito popular durante os tempos da Reforma e ainda era fortemente defendida no século dezenove. Especialmente com o surgimento de Napoleão, essa visão foi reconhecida como a interpretação final. Dentre os Protestantes, pessoas que têm essa visão consideram o Papa e a Igreja Romana como sendo o anticristo e a Besta. O próprio Martinho Lutero tomou essa visão. Mas os comentaristas da Igreja Católica tomaram a visão oposta e reconheceram o Protestantismo como o Anticristo. Eles até mesmo declararam ter encontrado o número 666 no nome de Martinho Lutero. Muitos do povo de Deus no final do século dezoito e no começo do século dezenove criam que Napoleão cumpria o personagem mencionado em Apocalipse 13. E muitos dos números no livro foram tomados arbitrariamente como um período fixo de profecia; por exemplo, o numero de três anos e meio foi considerado uma representação da tribulação na sua própria história corrente.
O Futurismo
Essa escola mantém a ideia de que a maior parte da profecia ainda está para se cumprir no futuro. A partir do capítulo 4, nem mesmo uma letra foi cumprida. Os capítulos 2 e 3 falam da Igreja. Só depois que o período da Igreja for cumprido é que qualquer coisa depois do capítulo 4 pode ser cumprida. Os capítulos 6-19 referem-se a eventos que acontecerão no tempo das últimas sete das setenta semanas de Daniel. E as últimas sete semanas de Daniel não podem começar sem que a história da Igreja esteja completada. Essa interpretação é a mais satisfatória, pois é a que mais coincide com as profecias encontradas em outras passagens da Bíblia.
Entretanto, existe alguma falibilidade tanto na interpretação dos Preteristas quanto na dos Históricos. Os Preteristas mantêm a ideia dos Professores Racionalistas. Ninguém, na Igreja dos primeiros séculos, acreditou nisso. Pois isso limitou os horizontes de João a ver somente a perseguição dos Cristãos por Roma. Isso reduz a profecia a um simples valor alegórico, e meramente prediz a derrota dos romanos. Os Interpretadores Históricos, por outro lado, adormecem o mais solene aviso da Bíblia Sagrada direcionado às pessoas do final dessa era, com a finalidade de que não possamos conhecer o que a ira de Deus será. Sejamos, pois, esclarecidos a respeito do que a Bíblia realmente ensina.
Em I Coríntios 10:32 Paulo divide a humanidade em três principais categorias: Judeus, Gentios, e a Igreja de Deus. Durante os tempos do Velho Testamento não havia Igreja, pois ela foi estabelecida pelo Senhor somente no período do Novo Testamento. Uma vez que o livro de Apocalipse é o último livro da Bíblia e que por essa posição ele é a soma de todas as Escrituras, é natural que ele nos mostre como será o fim dessas três categorias de pessoas. Os Preteristas, no entanto, sustentam que o Apocalipse relata apenas a história passada das lutas da Igreja. Os Interpretadores Históricos também limitam a profecia à experiência da Igreja depois do tempo de João. Ambos abraçam a Igreja e deixam passar os Judeus e os Gentios. Essa visão é muito parcial e faz da revelação de Deus um livro imperfeito. Se concordarmos com as suas interpretações, nós seremos deixados na escuridão quanto ao futuro fim dos Judeus e Gentios. Mas nós devemos esperar ver no último livro da Bíblia (1) o caminho que a Igreja vai trilhar na terra e sua futura glória; (2) a proteção dos remanescentes dos Judeus por Deus ao longo da Grande Tribulação e o seu recebimento das bênçãos de Deus prometidas por meio dos profetas; e (3) o julgamento dos Gentios que pecaram e não creram, assim como a alegria desses Gentios que vierem ao Senhor.
O Idealismo
Esse método interpretativo não busca um cumprimento exato dos símbolos e profecias apocalípticas. O conteúdo do livro consistiria numa representação do conflito espiritual entre o reino de Deus e os poderes diabólicos. De modo que do Apocalipse se extrairiam princípios para guiar a igreja em sua batalha espiritual, qualquer que fosse a época.
A Chave Para Interpretar o Apocalipse
Em cada livro da Bíblia, há um versículo-chave, pelo qual todo o livro pode ser aberto. E por isso nós esperaríamos encontrar o verso-chave no Apocalipse a fim de termos também o esboço desse livro. Onde está esse versículo? O Senhor Jesus pessoalmente comandou João que escrevesse esse livro; então, vejamos como João recebeu essa comissão: "escreve, pois, as coisas que viste, e as coisas que são, e as coisas que serão depois dessas" (1.19). O Senhor deu a direção para João escrever três elementos: primeiro, as coisas "que [João] viste"; segundo, "as coisas que são"; e terceiro, "as coisas que serão depois destas". E João escreveu de acordo. No momento em que ele estava para escrever, ele já havia tido uma visão; por isso, a primeira coisa que ele devia escrever era o registro da visão que ele tinha acabado de ver. João continuou então a mencionar "as coisas que são" e concluiu com "as coisas que serão depois dessas". E, assim, esse único versículo da Escritura faz alusão às coisas do passado, do presente e do futuro.
Três Principais Divisões do Livro de Apocalipse
Tomando isso como uma chave, então, o livro de Apocalipse deve ser dividido em três partes principais. Com vinte e dois capítulos no livro, como são feitas as três divisões? Antes de tocarmos na primeira e segunda divisão, comecemos olhando para a terceira divisão. Há um versículo no capítulo 4 que evidentemente indica que a terceira divisão começa naquele capítulo: "Depois dessas coisas," disse João, "eu vi, e eis uma porta aberta no céu, e a primeira voz como de trombeta, que eu ouvi falar comigo, disse: sobe aqui, e te mostrarei as coisas que devem ser depois dessas" (4.1). "As coisas que devem ser depois dessas" devem ser coisas depois desses três capítulos. Apocalipse 1.19 indica que a terceira divisão fala das "coisas que devem ser depois dessas", e as coisas que João viu do capítulo 4 em diante são de fato "as coisas que devem ser depois dessas". Dessa forma, é evidente que a sua terceira divisão do Apocalipse começa no capítulo 4 (e desde que o livro tem apenas três divisões, a terceira divisão deve ser do capítulo 4 ao 22). Isso deixa apenas os primeiros três capítulos para a primeira e segunda divisões do livro. Apocalipse capítulo 1 é concernente ao que João viu. O versículo 11 diz "o que vês, escreve-o em um livro", e no verso 19 João é ordenado que "escreve, pois, as coisas que viste". Entre esses dois versículos João viu a visão, a qual constitui aquilo que ele viu. A primeira divisão do livro é, por isso, o capítulo 1. Desde que aprendemos que todo o livro pela sua própria indicação deve ser dividido em três divisões principais, e já que também aprendemos que a primeira divisão é o capítulo 1 e que a terceira divisão vai do capítulo 4 até o fim do livro, pode-se racionalmente concluir que a segunda divisão principal do livro deve ser os capítulos 2 e 3. Nesses capítulos nós encontraremos "as coisas que são", as quais são as coisas concernentes à Igreja.
João viveu na era da Igreja, e por isso a Igreja é reconhecida como "as coisas que são". Os capítulos 2 e 3 dão a história profética da Igreja do seu começo ao seu fim. Começa com os Efésios abandonando o seu primeiro amor (2.4) e termina com os Laodicences sendo vomitados da boca do Senhor. A historia inteira da Igreja está dessa forma sendo delineada por essas sete igrejas locais. Desde que "as coisas que devem ser depois dessas" seguem "as coisas que viste" e "as coisas que são", os conteúdos registrados do capítulo 4 em diante devem esperar até que a história da Igreja possa ser cumprida para que sejam cumpridos. Embora hoje o fim esteja de fato se aproximando, nós devemos admitir que a Igreja ainda existe na terra; e que, dessa forma, o seu tempo ainda não está totalmente cumprido. Esse é o ensino das Escrituras. Apocalipse 1.19 é de fato a chave que destranca o mistério que rodeia esse livro. E, a partir deste verso, nós temos agora obtido uma verdadeira interpretação.
Vídeos sobre o Apocalipse de João:
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